Muita gente. Muita gente mesmo. Povo unido sem face, mas com Facebook.
Uma tomada de ruas legítima, inquestionável, justa. Embora não pareça, elas
são nossas. O que é público é nosso!
Testemunhei:
_Gente animada porque chegou sem trânsito e sem trabalho para estacionar
o carro.
_Turmas pensando na volta para casa. “Onde tem metrô aqui perto?”
_Meninas abraçadas em bandeiras do Brasil fabricadas na China (não
fosse a Copa das Confederações, não teríamos tantas à disposição!).
_Reclamações generalizadas porque ninguém sabia a segunda parte do hino
brasileiro.
_Jornalista, ao vivo, entoando em rede nacional um “não quero ser
preconceituosa, mas pelo corte de cabelo eles devem ser punks”.
_Cartazes com todo tipo de conteúdo e hashtag.
_Pedidos de exclusão de manifestações partidárias.
_Pedidos para a população tomar partido.
_Dúvidas sobre o caminho a seguir: marginal ou Faria Lima?
_Pelos cantos, como ratos, nas tocas e esquinas da Espraiada, as
pessoas que ainda fingimos não existir.
_A adoção de um jingle publicitário como grito oficial do protesto.
_O vinagre escolhido como principal aliado, independente de seu efeito
nulo contra o gás lacrimogênio.
_Felicidade geral por estar fazendo história.
Enxerguei:
_O retrato de uma geração que nasceu após as conquistas de seus pais –
políticas ou cotidianas –, que não sabe
em quem acreditar, que não sabe pra onde ir e que luta pra saber o que quer.
Com vontade mudar tudo, embora não façam ideia o que isso significa.
Como fiquei:
_Em silêncio.
_Desconfiada, diante de um “#mudabrasil” e um “#vemprarua” vindos do
carro de uma pessoa que desprezo como cidadã. O que esse ser, que até ontem achava
absurdo qualquer projeto de corredor de ônibus, pensa estar falando? E quem sou eu para julgá-la?
_Cautelosa, porque não se trata do bem x mau, do Corinthians x
Palmeiras. Não sou cega, não sou idiota. Trata-se de descobrir: qual a
minha parcela de responsabilidade e o que eu posso fazer?
_Confusa. Não se diz um movimento democrático? “Negar a participação de determinados grupos em manifestações abertas não tem outro nome senão autoritarismo. Negar a existência de partidos em nome da 'nação' e da 'pátria' não tem outro nome senão fascismo.” (Plínio - Pragmatismo Político)
_Confusa. Não se diz um movimento democrático? “Negar a participação de determinados grupos em manifestações abertas não tem outro nome senão autoritarismo. Negar a existência de partidos em nome da 'nação' e da 'pátria' não tem outro nome senão fascismo.” (Plínio - Pragmatismo Político)
E agora?
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Epílogo:
_Preparem-se. Os virgens das ruas ainda não sabem, mas efeitos colaterais fazem parte, concordemos com eles ou não.